Reportagem

Russel Square magoou a perna e gritava "Eu sou Russel Square! Eu sou Russel Square!" enquanto o levavam numa maca feita de braços, quase em apoteose. Perdoavam-no tudo, era um herói. Ditava modas, Russel Square era o nome dele e tinha-se magoado na perna. Levavam-no em braços, gentil e dolorosamente, os jovens e as jovens pela rua abaixo até ao buraco que dava para as instalações deles, escondidas mesmo debaixo da minha rua. Lá havia espaço, naquela gruta virgem feita ainda de planeta selvagem que existe debaixo das nossas cidades. Russel Square parecia ditar novas regras. Alguém discordava e Russel Square, com o olhar, mostrava-lhe onde era a saída daquele abrigo subterrâneo. Não sei descrever muito bem a aparência de Russel Square, era jovem, lá isso era, vinte e poucos, e os outros seguiam-no como se seguissem o único caminho possível, por ser o mais luminoso. Mas Russel Square vestia-se com roupa velha e suja, t-shirt, calções e botas. Tinha cabelo comprido, de origem mediterrânica cruzado de índio, talvez. Carisma não faltava a Russel Square, nome de lugar, de praça televisionada. E tinham montado o abrigo deles aqui, debaixo da minha rua. Fui espreitar e vi a casa de Russel Square e dos seus. Era grande e despojada. Vi-o grande e despojado, vi-o a ele uma vez sozinho de frente para os outros e comovi-me ou deixei-me comover. 


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