o piano
Que direito tens tu, ó artista ou mestre de batuta mágica, de atirares um piano, assim, para a noite dos assassinos? Piano vagueia perdido ao relento doce e pesaroso de andamento e chora alegres majestosos em noites tímidas de lua cheia. A rapariga compadece-se, mais ninguém. Estende-lhe a mão, e a música que dela virá não soará mais à violência do grito solene e estridente, ou da brusquidão tirana e demente do artista ou mestre. A rapariga e o piano são melodia de pássaros que fazem um ninho e que ganham asas na mais funda e dilacerante ferida da humanidade no meio sujo da cidade, esgoto profundo e escondido onde as almas tristes habitam alegres, mas não muito.