Veio-me uma ideia à cabeça. Duas, aliás. Mas uma delas deixou-me nervosa. Que um homem, o Rolando mordia a orelha a outro homem, um transeunte. O Rolando trabalhava num talho. Era um Homem simples, não acabara o 9º ano. Era gorducho, já estava quase careca, apesar dos seus 26 anos. Nunca lhe vi barba.Era um Homem com pouco pêlo. Andava anormalmente com a bata do talho para todo o lado mas toda a gente o conhecia através do vidro da montra da carne. O Rolando vivia a branco e a vermelho. Ou melhor, vivia a branco sujo de vermelho. Salpicava-lhe sangue na bata, orgãos moles também. Bocados de tripa às vezes. Era um homem muito físico e sensual na maneira delicada com que lidava com a carne. Tendo especial devoção à carne de porco - sendo o porco um animal por excelência curvilíneo. Gostava muito de transformá-lo em bifanas ao gosto dos clientes. Em paralelepípedos de bifanas ou nacos geométricos medidos a régua e a esquadro. A forma ou a divina escultura do porco ganhava sentido nas...