Extracto do diário do poeta/escritor Jaquelino Bragão Travassos

Que a terra húmida, como ventre primordial me acolha de novo neste vendaval silencioso em que me encontro, ò eterna paz e revolução da juventude, vós sumistes tal como a luz que agora vejo, coada pelos vitrais desta catedral a que o povo chama velhice. Tudo é neblina e já não vejo o sangue pulsar-me nas veias nem o ímpeto do jovem que eu era. A miudagem é a força, o bulício da brincadeira, o murmúrio constante de um riacho que corre e corre e não cansa até que alguém diz pára, chegaste ao mar, agora descansa. Ninguém avisa, não há sinais, corre e escorre a vida por entre vales, rochas, montanhas e barragens que inadvertidamente construímos para nós. Num só sentido corre contra-relógio, para esse eterno retorno à terra que nos viu nascer. Vivo em memórias, enquanto Deus mo permitir. Vivo no pretérito-perfeito quando nada na vida foi perfeito. Tal é a tristeza de envelhecer.


Nota: Jaquelino B. Travassos nunca chegou a ultrapassar a barreira do anonimato. Ele também nunca existiu. Considerava-se acima de tudo um poeta com raízes profundas na sua terra natal onde era muito admirado por todos, e de onde nunca saiu. Aí veio a falecer.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Agosto de dor

Olha nós